Biografia - parte II
(clique aqui para ler a parte I)
Mário Avancini foi reconhecido como artista
em 1943. Hoje, Avancini, dá nome a um edifício e a uma rua de Joinville. No
Museu de Arte de Joinville, ganhou uma sala com seu nome para abrigar suas
obras" (MAZZARO, 2010).
Em 1968, o prefeito Nilson Bender encomendou
uma placa de pedra para identificar a praça do índio na Rua Lages, surgindo
então, a Cabeça de Índio, marco da carreira de Mário. Com esse feito, o
prefeito oferece a Mário uma bolsa de estudos para estudar na Casa da Cultura,
tornando-se logo depois professor desta mesma instituição.
Foto: Juliana Rossi. Escultura de Mário Avancini. Série Ecologia, 1990. Mármore Cristal. Trabalho exposto no Teatro Juarez Machado em março de 2013.
Em 1971 participou da
primeira coletiva de artes plásticas. Preferia trabalhar com pedras mais
duras como mármore, granito e pedra terra, em função de sua durabilidade e
resistência ao tempo. Sempre utilizava os instrumentos de calceteiro como:
talhadeira, maceta e ponteiro. Não fazia esboços e fazia surgir a forma
espontaneamente como expressão do tato com a matéria (SCHATZMANN, 2009).
Seus temas variavam entre geométrico,
expressionista, erótico e místico. Logo após, a família se tornou sua grande
temática. Depois, trabalhou com figuras da natureza, com a série Ecologia, em
que se utilizava de formas circulares. Conseguiu uma forma de colorir a pedra.
Foto de Sônia Regina Andreata Biss da Cunha. Peça de Mário Avancini - título não atribuido. Foto copiada do Trabalho de Conclusão de Curso do curso de História da Arte da Casa da Cultura Fausto Rocha Júnior (2010)
Desde criança, Mário fumava
charuto e cachimbo. Este vício durou até 1984, quando foi obrigado a deixar o
fumo por complicações associadas ao pó de pedra e aos tragos que dava nas
fumaças. Assim, seus pulmões foram seriamente afetados, restando apenas um
terço. Mesmo que a falta de ar o deixasse alguns dias fora do trabalho, parecia
sempre reviver para esculpir o restante das peças.
O filho Marcos acredita que
a causa de sua morte foi um furo no braço por um prego enferrujado, o que
ocasionou uma infecção responsável por sua morte – septicemia, registrou a
certidão de óbito (UM 1992 que não deve ser esquecido, 2012), desmentindo a
romanticidade que ronda os boatos de que Mário teria falecido em razão do
próprio ofício, devido ao contato constante com o pó nocivo.
Foto: Juliana Rossi. Foto do catálogo da exposição "Incorporação 2", copiada da pasta do artista localizada na biblioteca do Museu de Arte de Joinville.
Na época, Mário dividia o
mesmo ateliê do pai, no bairro Boa Vista. Parece que o arranhão não teve a
devida atenção de “seu Mário” (como era conhecido), pois "três dias antes
ainda trabalhava em encomendas, com a mesma disposição de sempre. O artista de
66 anos fazia tratamento para um problema respiratório há dez anos, mas naquele
fatídico dia sentia algo diferente" (UM 1992 que não deve ser esquecido,
2012).
Regina Colin, sua amiga,
afirma que Mário nunca teve a pretensão de ser alguém importante, e foi justamente
por essa maneira que conquistou a todos – “as últimas lembranças que tenho dele
era de que nunca se queixava da vida e era grato por tudo o que acontecesse”
(apud UM 1992 que não deve ser esquecido, 2012).
Foto de Juliana Rossi. Título não atribuído. Escultura de Mário que encontra-se na entrada da Galeria Municipal de Arte Victor Kursancew, localizada na Casa da Cultura Fausto Rocha Júnior.
Mário permaneceu na Casa da
Cultura até 1991 produzindo mais de 2000 obras, e participando de diversas
exposições individuais, coletivas e recebendo alguns prêmios – “para Mário
Avancini a pedra fala, sorri, emociona, gesticula, agride, suaviza a poluição
estética de nosso tempo” (SCHATZMANN, 2009, p. 5)
Em 1992, em novembro,
despediu-se de seu confidente Luiz Si, também professor da Casa da Cultura – “Mário
revelou que não tomava mais os remédios como deveria, que estava cansado da
doença e do seu afastamento forçado da pedra” (SCHATZMANN, 2009, p. 8). Pediu
também ao amigo que ajudasse seu filho a promover exposições, falecendo na
madrugada do dia 17 de novembro de 1992, deixando esposa e seis filhos: Maria
da Glória, Marlene, Mário, Marli, Mauri, Marcos. Fechou o ciclo de perdas
daquele importante ano em que Schwanke e Hamilton Machado também morreram.
Deixou pronto um presente de aniversário para a filha Marli – uma peça de
cerâmica que seria entregue no mês seguinte.
Foto de Sônia Regina Andreata Biss da Cunha. Peças de Mário Avancini - títulos não atribuídos. Foto copiadas do Trabalho de Conclusão de Curso do curso de História da Arte da Casa da Cultura Fausto Rocha Júnior (2010)
Marcos e Marli aprenderam o ofício do pai.
Marcos restaurou o monumento “O Calceteiro”, corroída pelo tempo e vandalismo e
queixa-se do descaso do poder público e a falta de educação das pessoas.
Marcos
afirma que seu pai “[...] estaria desiludido com o estado das obras públicas
que fez” (MÁRIO Avancini, p. 37, 2011). Marli afirma que a
preocupação com suas obras e o valor financeiro nunca partiu diretamente de
Mário, e sim partiu de sua esposa e família depois de sua morte, pois Mário
“[...] nunca se gabou de uma boa condição financeira, [...] as obras ficavam no
‘pago quando puder’” (apud MAZZARO,
2010). Sua filha, Marli, conseguiu encaminhar suas obras que estavam em poder
da Cipla para o Museu. Restaram
para a família as fotos de mais de 180 peças. Muitas estão sob cuidado do MAJ.
Marcos, em reportagem do jornal A Notícia de 2010, afirma que utiliza a mesma técnica que o pai, e que suas obras são
mais valorizadas em Curitiba do que em Joinville (MAZZARO, 2010).
Foto de Mário Avancini copiada da reportagem "20 anos de Luto" (catálogo da Coletiva de Artistas). Disponível em: http://www.clicrbs.com.br/anoticia/jsp/default2.jsp?uf=2&local=18&source=a3897237.xml&template=4187.dwt&edition=20485§ion=1186
Mário viu vários artistas
joinvilenses falecerem no ano 1992, entre eles Harry Laus, escritor, e Schwanke,
artista contemporâneo. Mas também viu falecer Hamilton Machado, o qual o
considerava como um filho e tinha como parceiro inseparável pelos corredores da
Casa da Cultura (MAZZARO, 2012). Em
menos de três meses, encontrou o mesmo fim, quando pediu para desligar os
aparelhos, cansado da vida, o que não foi preciso, pois faleceu assim mesmo,
também em 1992.
(clique aqui para ler a parte I)
Referências
CUNHA, Sônia Regina Andreata Biss da. Mário Avancini: o Michelangelo brasileiro. Fundação Cultural de Joinville – Casa da Cultura. Escola de Artes Fritz Alt. Joinville, Novembro/2010.
MÁRIO Avancini, o fazedor de caminhos. Jornal A Notícia, Joinville, 9 mar. 2011. Caderno de aniversário do A Notícia, p. 29.
MAZZARO, Rafaela. 20 anos de luto. Jornal A Notícia, Joinville, 26 set. 2012. Anexo, Caderno de aniversário do A Notícia, p. 37.
______, Rafaela. Molde de pedra, coração de ouro. Jornal A Notícia, Joinville, 10 mai. 2010. Anexo, p. 1.
SCHATZMANN, Gabriela. Mário Avancini. História da Arte III. Professora Miriam Aparecida da Rocha. Joinville/ Dezembro 2009. Fundação Cultural de Joinville – Casa da Cultura. Escola de Artes Fritz Alt.
UM 1992 que não deve ser esquecido. Jornal A Notícia, Joinville, 26 set. 2012. Caderno Anexo, p. 1
Adorei o registro!!! Ajudará nas pesquisas de meus educandos!
ResponderExcluirE Parabéns pela iniciativa!
Se quiseres,conheça meu blog :)
aslinguagensdaarte.blogspot.com.br
Mario e Marcos Avancini, orgulhos para nossa Joinville, para o Brasil e todo o mundo!
ResponderExcluirTenho uma profunda adoração pela obra desses Mestres!
Conheci um dos netos de Mario Avancini, o Elton Avancini, incrível como o neto tambem tem o dom da escultura acompanhei varias de suas artes, via lapidar uma pedra como fosse desenhar em um papel, uma pena a arte e obartista não serem valorizados em Joinville.
ResponderExcluirAnderson Sartori