Biografia - parte II
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Conhecido
como o “teimoso simpático” por suas opiniões firmes e irrevogáveis, Victor fez
muitas amizades também em Joinville. Segundo Szabunia (1980), Kursancew foi um
dos grandes amigos de Fritz Alt, além de Antônio Mir e Edson Machado. Mesmo
pela amizade e bom relacionamento com Mir, que fazia com que os dois ficassem
durante horas conversando sobre artes plásticas, “Victor era sincero em relação
ao trabalho de Mir, o qual não lhe agradava” (SZABUNIA, 1980).
Autorretrato. óleo s/ tela. 0,50x0,58m. Data desconhecida. Disponível em: https://docs.google.com/presentation/d/1wnr86IRMWFKx_vM6YEA0vLinL_yTj6OgsugohVJihE4/edit?authkey=CLfYjKEE
Passava
horas conversando,
principalmente se a pessoa demonstrava cultura e se houvesse uma ou mais
garrafas por perto. Conversando e bebendo Victor “ia longe”. Seu nível cultural
era impressionante, estando sempre a par de qualquer assunto. Seu filho
Francisco conta que “entre uma e outra birita o velho se abria, e podia
entreter uma pessoa durante horas a fio” (SZABUNIA, 1980).
Retrato Sr. Moreira. Óleo s/ tela. 0,50x0,55m. Data desconhecida. Idem referências da primeira imagem.
Uma
reunião com amigos, regada à cerveja, era uma das coisas que mais gostava;
tinha “espírito boêmio” (SZABUNIA, 1980). Sentia-se bem também com a solidão –
“não foram poucas as vezes em que era surpreendido dormindo – tarde da noite –
em uma cadeira, depois de ter passado algumas horas divagando, filosofando”
(SZABUNIA, 1980).
Considerava-se
“bom vivant”, “tratando de aproveitar o que a vida podia lhe oferecer de bom.
Não pensava muito no futuro, olhando mais o momento atual. Detestava a
mesquinhez. Adorava a arte” (SZABUNIA, 1980).
Retrato de Conrado Koening. Óleo s/ algodão. 0,51x042m. 1978. Idem imagem acima.
Profundo
pesquisador da pintura em geral e do processo cultural em geral, seu material
de pesquisa continha inúmeros livros sobre arte, sendo que alguns eram muito
antigos e escritos em alemão.
Anexa
à Casa da Cultura, há a Galeria Municipal de Arte que, em sua homenagem, leva
seu nome. Fundada em 1982, dois anos após sua morte, lá acontecem exposições de
artistas contemporâneos itinerantes e de alunos da Escola de Artes Fritz Alt. Porém,
a única tela que compõe o acervo é um quadro de 1984 que retrata Santos Dumont,
entre as 324 peças da galeria (MAZZARO, 2010). A instituição também possui um
livro onde há o levantamento de 90 produções documentadas.
Girassóis. Óleo espatulado s/ tela. 0,90x0,75m. data desconhecida.
Em
2007, uma retrospectiva na Galeria aconteceu em função das comemorações de 25
anos de existência e revitalização. A mostra foi denominada “Homenagem a Victor
Kursancew”, com cerca de 30 obras, entre elas a série de aquarelas “Joinville
Antiga”. Nessa série, “[...] é possível resgatar registros de lugares que não
existem mais, como o coreto de Joinville no Jardim Lauro Mûller – criado em
1928 e demolido em 1938 [...] [além da] antiga residência de Ottokar Doerffel
que hoje abriga o Museu de Arte de Joinville” (SCHMITZ, 2007, p. 2).
Kursancew não
conseguia sobreviver apenas como artista plástico, e passou a trabalhar
intensamente com publicidade, usando dos mais diversos materiais para eternizar
a criatividade (VICTOR, 2011, p. 28), além das aulas que lecionava na Casa da
Cultura (MAZZARO, 2010).
Residência Ottokar Doerfell (hoje MAJ). Série Joinville Antiga. Aquarela. 0,28x0,21m. 1972
Era
extremamente exigente e crítico em tudo que se relacionava com arte,
“principalmente pintura, que era sua ocupação mais constante. De estilo
acadêmico, manteve-se fiel a esta linha, e seus trabalhos são verdadeiros
estudos cromáticos” (SZABUNIA, 1980). De formação acadêmica, era “possuidor de
grande habilidade em retratos. Dedicou-se também ao desenho e à pintura
comercial” (LAMAS, 1992, p. 16).
Os
amigos pintores europeus que o influenciaram, segundo Szabunia (1980) foram:
Ilie Repin, Alexey Serow e Otto Dix, “com quem mantinha contatos proveitosos no
campo da arte. Sua morte, aos 61 anos, deixou uma lacuna no movimento artístico
joinvilense” (SZABUNIA, 1980).
Casa Enxaimel. óleo s/ tela. 0,80x0,63m. data desconhecida. Idem dados imagem acima.
Pai de oito filhos, sustentava a família.
Boêmio, gostava dos amigos e era poderoso na hora de argumentar, relembra as
filhas Maria Angélica e Helene em notícia publicada no Jornal A Notícia (2011).
No início da carreira, muitas vezes não conseguia suprir os gastos com o que
vendia, pois necessitava importar os materiais de pintura.
Segundo
Mazzaro (2010), o ateliê de Victor hoje é a sala onde Marianne, sua viúva,
assiste TV e recebe os filhos. O cavalete que antes servia de instrumento de
trabalho, hoje serve como objeto de decoração da família. O maior acervo de
obras hoje se encontra na casa de Marianne; sua casa parece uma galeria
particular de obras de Kursancew, mas a filha Angélica afirma que gostaria que
seu “[...] pai tivesse um espaço onde as pessoas pudessem conhecê-lo” (apud MAZZARO, 2010).
Retrato de Helene (filha do artista). Crayon. 0,38x0,33m. 1965. Idem dados imagem acima.
Logo
que se aposentou, veio a falecer em 1980 em São Francisco do Sul, vítima de um
aneurisma cerebral, aos 60 anos. Deixou para a família poucas obras que hoje se
encontram com sua mulher e seus filhos mais velhos. A filha Angélica perdeu o
pai quando tinha 18 anos, e afirma que o pai estava no auge da carreira - “eu o
via fazendo retratos de clientes e sempre sonhei que um dia eu pudesse posar
para ele, mas não deu tempo, ele partiu antes”.
Em
maio de 1979, teve seu primeiro derrame cerebral, o que fez com que tomasse uma
decisão inédita de ir para a Enseada sozinho, não sabendo que seria sua última
viagem. Alguns dias depois, teve um segundo derrame, ocasionado por um
aneurisma no cérebro, vindo a falecer pouco depois do meio-dia, “causando um
sério desfalque ao movimento artístico de Joinville” (SZABUNIA, 1980).
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Referências
LAMAS, Nadja de Carvalho. Eugênio
Colin: o pintor joinvilense. Faculdade de Arte do Paraná. Curso de
pós-graduação em nível de especialização em Fundamentos Estéticos para
Arte-Educação. Curitiba, 1992. 33p.
MAZZARO, Rafaela. Lutando pela própria arte. Jornal A Notícia, Joinville, 12 mai. 2010. Anexo, p. 1.
SCHMITZ, Cristiane. Redescobrindo Kursancew. Jornal A Notícia, Joinville, 22 mar. 2007. Anexo, p. 2.
SZABUNIA, Roberto. Victor Kursancew, acima de tudo
amante da arte. Jornal A Notícia, Joinville, 6 mar. 1980.
VICTOR KURSANCEW. Disponível em: <http://galeriavkjoinville.blogspot.com.br/>. Acesso em 13 set. 2012.
VICTOR Kursancew, o boêmio rigoroso. Jornal A Notícia, Joinville, 9 mar. 2011. Anexo, Caderno de aniversário do A Notícia, p. 28.